
Elisa no bolso.
Gostava assim. Caída dentro de uma caixa de fósforo.
Sendo carregada por quem precisasse de fogo pra acender um cigarro.
Gostava de pensar que talvez aquele fosse o último cigarro a ser aceso por algum viciado. E sorria pensando nisso.
Viciados continham aquela ternura linda de artifício sem-vergonha.
Coisa de pegar um copo de cachaça já com a mão tremendo e até antes de colocar na boca sentir como se o mundo todo estivesse à sua disposição finalmente, naquela metade de minuto.
Naquela metade de gota..antes de morrer.
..
No bolso de Elisa.
O que morava ali: herança de ciganos ricos e mendigagem.
Os três porquinhos e os irmãos metralha sem disneilândia.
Ossos do ofício. Dizem.
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Entre as duas ranhuras.
O desespero de todos e o sorriso de alguns desesperados atravessando o elmo dos horrores.
Entre o copo e a água uma passagem de segundo. Minimalismo selvagem.
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Numa casa menor ainda feita de tripas de sangue coagulado a porta de entrada não era o espetáculo.
As crianças que passavam ficavam doces imaginando uma enorme maçã do amor gotejando.
Foi assim que nervos, vísceras e carne-viva viraram suco de língua.
Elisa lambia o avesso-mundo.
Agora montava vagões e saía pelo trilho com os bolsos cheios de sabotagens.
Distribuindo tropeços pelo mundo-avesso.
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