Nômade



Elisa no bolso.

Gostava assim. Caída dentro de uma caixa de fósforo.

Sendo carregada por quem precisasse de fogo pra acender um cigarro.

Gostava de pensar que talvez aquele fosse o último cigarro a ser aceso por algum viciado. E sorria pensando nisso.

Viciados continham aquela ternura linda de artifício sem-vergonha.

Coisa de pegar um copo de cachaça já com a mão tremendo e até antes de colocar na boca sentir como se o mundo todo estivesse à sua disposição finalmente, naquela metade de minuto.

Naquela metade de gota..antes de morrer.

..


No bolso de Elisa.

O que morava ali: herança de ciganos ricos e mendigagem.

Os três porquinhos e os irmãos metralha sem disneilândia.

Ossos do ofício. Dizem.

..


Entre as duas ranhuras.

O desespero de todos e o sorriso de alguns desesperados atravessando o elmo dos horrores.

Entre o copo e a água uma passagem de segundo. Minimalismo selvagem.

..


Numa casa menor ainda feita de tripas de sangue coagulado a porta de entrada não era o espetáculo.

As crianças que passavam ficavam doces imaginando uma enorme maçã do amor gotejando.

Foi assim que nervos, vísceras e carne-viva viraram suco de língua.

Elisa lambia o avesso-mundo.

Agora montava vagões e saía pelo trilho com os bolsos cheios de sabotagens.

Distribuindo tropeços pelo mundo-avesso.

..

Quando não há carnaval..




..então costuramos nossas mãos assim, em relevos salivados de boca.

Você é mesmo algo desenhado entre a minha e o desejo de morder gagueiras.
Morri, meu pássaro. Só pra te alcançar.
Enquanto te sobrevoava desci docemente sobre teu peito de arroz, a mais fina tecelagem entre meus dedos escuros.
Tão morno teu cantar que cavou um vulcão e ficou lá, borbulhando favos e pólen numa forma minério-animal que nunca vira antes.
Carvão adormecido em savanas, acordando marfim sinuoso dentro do sexo mamífero.
Foi jorrando leite do moinho que te ofereci a casa e o dedal.
Com solenidade ímpar aderimos duas cloacas e ficamos pegajosos lambendo violentamente as seis bulhas.
Nos intervalos que não haviam comemos nossas costas arranhadas com suturas saltando dos olhos-asas.
Quanto mais invasores, invadidos.
E tanto que finalmente..Eu-você e sem categoria nem espécie.
Agora somos uma raça de peles que desdobram-se hibridamente para sobreviverem ao amanhã.

Um candeeiro guarnece toda a emboscada em canela e hortelã furiosas..