"Lola"





Dos dias anteriores ao do jardim recordava agora especialmente de um.
Mas antes disso ainda, voltemos à concepção dos latidos em letras.

Claro que pegara o ponteiro quebrado de Virgínia: Flush empoeirado na segunda prateleira sempre meio que lhe seduzia o olhar nos momentos mais improváveis, como este agora, em que indo à lavanderia futucar finalmente a roupa mofada, e já contando com algumas perdas, deixava a cabeça pender para o lado complacentemente - olhar desviado - já sabido o remetente. Umidades e seus odores inevitáveis tomavam sempre contornos atraentes por dentro de suas narinas e formavam uma neblina densa, impedindo que o inexplicável cheiro de lavanda, que surgia sempre às terças-feiras, a sufocasse.

Do livro, diria ainda que a contra-capa era mesmo como um abano de orelhas sacudidas por pulgas enormes, tanto que quando entrava um vento sorrateiro pela janela colidindo com o bafo canino, chegava a ouvir latidos..“Por Deus, juro que sim!”. Mas como acreditava menos em espíritos e mais em novelos, apenas miou como um gato e aliciou as mãos caídas pela beira do sofá, que lhe trariam a derradeira carícia.

Cada vez menos recordando o jardim, evadiu-se, abanou o rabo e olhou de esguelha para mim, já indo longe.

Mais longe ainda, meu último soluço. Só eu o ouvia agora com a nitidez de um carimbo sendo estampado.

Ela voltou para fechar meus olhos com a língua em selo e latiu solenemente.

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