Compotinha de tubérculos para viagem

- E então? Aquela vontade imensa de ser o tipo de cara para quem os vizinhos acenam orgulhosos..já passou? De vez em quando também ainda penso em me mudar de cidade, bater em sua porta pra pedir uma xícara de açúcar e me sentir uma vizinha respeitável.

- Aquilo nunca existiu, o acontecido foi que o síndico me interfonou um dia por engano, pensando que era o cara ao lado, me perguntou se eu gostaria de me candidatar e eu aceitei antes que ele descobrisse que trocou de porta.

- Alívio por você, olhar um ponto na minha frente.
Parede. Atrás, outra parede.
Se eu coubesse em paredes como você, nossaaaa..tudo então estaria no mínimo, ótimo.

- Fique calma que eu ja tenho seu nome na minha boca, por dentro de tudo, mesmo sem falar.Tenho até seu pé encostando em mim e sem saber. Mesmo que você nem queira que seja assim, é.

- Vai me dizer que escuta até os estalinhos por dentro do peito, saber se soa plof, plac, pluc, fup, tonf..só para depois guardar dentro de MIM??

- Querida você: docinho de limão que bem poderia ser a panacéia de tudo, mas é algo que é feito de uma forma que leva algo além de limão e leite condensado. Existem outras químicas. Mas não sou nenhum místico para esse tipo de coisa.
Porèm, me morda, cara, barriga, bunda, costas, me deixe repleto de lágrimas se esse for o caso, do acaso, mas nunca, amor, amor, amor, amor, amor, nunca descaso, amo, amor, amor, amor, isso sim.

- Maldição! Quero meu travesseiro-eu-você também. Começou a chover e a gente vai respirar junto.

- Aposto que foi no meu ombro, onde tenho as pintinhas, não foi ?
Senti.

- E ao que tudo indica, Shakespeare, bem como Cervantes, nunca insistiram também.
E aprendemos a forma de amar, de sermos trágicos, ou loucos, patéticos,com esses dois.Dois caras que não existiam.
Uma subjetividade do tipo grandes lojas mundiais.
(tenho quase certeza que já escrevi isso antes mas foda-se, tô com uma preguiça de rocinante).

- Não permito que suma assim de mim.
Que deusa faria feliz um soldado em guerra com ele mesmo ?
Não desapareça.É tão difícil quanto fácil.

- Uau hein..mas olha que eu não sei mais sobre razão.
Pode ter sido outra subjetividade construída artificialmente, esse que os séculos posteriores herdaram.
Enfim, não sei.

- O problema é que eu sempre recebo mais de você, mesmo quando você possa achar que é menos, o mergulho acontece, é como conseguir respirar debaixo da água, ou dentro do mercúrio, que é líquido e é espelho...
(tenho quase certeza também que já escrevi isso antes mas hoje tô com a preguiça de sancho.

- Pelo ódio aos meus sais, não me fale mais de espelhos, nem de líquidos. Estou é com uma unha encravada e não consigo arrancar.E isso não é uma metáfora,nem ao menos hipérbole.

- É debaixo dos ossos, não é? Dentro deles, eu sei. Apenas nesse sentido somos escatológicos. Quem não entender, que se foda também.

- Entendo sim. E essa dor é que fez a criança trocar o choro pela palavra.
Parece minha árvore genealogica me lambendo toda.

- Cada folha, então, uma língua.
Isso seria assustador para alguns.
Sei que não pra você. E pra mim parece até eu fundando uma nova estação narcísica.

- Eu te digo, tu me dizes, nós dizemos e acabamos num sussurro de "venha mais, te quero a morte fina em vida grossa"!

- Somos rizoma da mesma árvore.
E não me importo com a quantidade de neurose que isso possa carregar nem você.
Enfim, já é noite, estou bonito, tenho dado galhos e trouxe flores.
Vim te matar.

- Que bom! Eu tenho dado frutos, estou bonita e trouxe o machado enquanto fumo seu cigarro.
Vim te fazer sorrir.
..