'Estagmata'

A música errada no bar certo, endereço de reconhecimento e enviei resgate.
Emudeceu berrando, tamanho era o sossego da denúncia aos holofotes.Deve ter sido tarde pra você mais uma vez, há um segundo não lembro mais de como sempre seria não em ti.
Tuas desculpas eram velhices de menino velhaco gritando mãe.
Enquanto estruturavas previsões de fracassos nos meus assobios, tive 120 dias de convulsões sem drogas.
Estar avante e antes mesmo de comprar cigarros não relutei. Aprendi com uma barata.
Entendo anedotas, anoto dentes mas não me adota riso fácil. Sonhei que chorava do desconcerto anunciando cor à vela de cinzas.
Pertenci ao desempenho sem função por despreendimento, desorientei o tempo enquanto fui ao supermercado te arrastando pelas sandálias, aprendi mais uma língua para vender barato, domestiquei avalanche em curvas com um olhar e devastei incêndio vertical somente com sobras de cuspe. Nem fisicamente exausta só contemplo.
Tu nem sonhavas, afeiçoado à própria cova e sonho, bendizendo esperanças em destino inútil.
Sorri brotando a esmo nos destroços sem carbono e talvez alguma verdade absoluta seja mesmo meu travesseiro. Fique um anjo ou vice-versa se quiser, garantindo que eu destrua teus demônios frente e verso sozinha, só não me troque a natureza por costume.
Fiz um soneto? Não sei medir, insistem que sim em tudo, busquei ensaio então e nem disfarcei.
Não viu, por isso nem ao menos entendeu?
Virou e disse:
- Absurda! Você não pode existir tão fielmente à cara dura e não morrer vagina em mim.
..

Compotinha de tubérculos para viagem

- E então? Aquela vontade imensa de ser o tipo de cara para quem os vizinhos acenam orgulhosos..já passou? De vez em quando também ainda penso em me mudar de cidade, bater em sua porta pra pedir uma xícara de açúcar e me sentir uma vizinha respeitável.

- Aquilo nunca existiu, o acontecido foi que o síndico me interfonou um dia por engano, pensando que era o cara ao lado, me perguntou se eu gostaria de me candidatar e eu aceitei antes que ele descobrisse que trocou de porta.

- Alívio por você, olhar um ponto na minha frente.
Parede. Atrás, outra parede.
Se eu coubesse em paredes como você, nossaaaa..tudo então estaria no mínimo, ótimo.

- Fique calma que eu ja tenho seu nome na minha boca, por dentro de tudo, mesmo sem falar.Tenho até seu pé encostando em mim e sem saber. Mesmo que você nem queira que seja assim, é.

- Vai me dizer que escuta até os estalinhos por dentro do peito, saber se soa plof, plac, pluc, fup, tonf..só para depois guardar dentro de MIM??

- Querida você: docinho de limão que bem poderia ser a panacéia de tudo, mas é algo que é feito de uma forma que leva algo além de limão e leite condensado. Existem outras químicas. Mas não sou nenhum místico para esse tipo de coisa.
Porèm, me morda, cara, barriga, bunda, costas, me deixe repleto de lágrimas se esse for o caso, do acaso, mas nunca, amor, amor, amor, amor, amor, nunca descaso, amo, amor, amor, amor, isso sim.

- Maldição! Quero meu travesseiro-eu-você também. Começou a chover e a gente vai respirar junto.

- Aposto que foi no meu ombro, onde tenho as pintinhas, não foi ?
Senti.

- E ao que tudo indica, Shakespeare, bem como Cervantes, nunca insistiram também.
E aprendemos a forma de amar, de sermos trágicos, ou loucos, patéticos,com esses dois.Dois caras que não existiam.
Uma subjetividade do tipo grandes lojas mundiais.
(tenho quase certeza que já escrevi isso antes mas foda-se, tô com uma preguiça de rocinante).

- Não permito que suma assim de mim.
Que deusa faria feliz um soldado em guerra com ele mesmo ?
Não desapareça.É tão difícil quanto fácil.

- Uau hein..mas olha que eu não sei mais sobre razão.
Pode ter sido outra subjetividade construída artificialmente, esse que os séculos posteriores herdaram.
Enfim, não sei.

- O problema é que eu sempre recebo mais de você, mesmo quando você possa achar que é menos, o mergulho acontece, é como conseguir respirar debaixo da água, ou dentro do mercúrio, que é líquido e é espelho...
(tenho quase certeza também que já escrevi isso antes mas hoje tô com a preguiça de sancho.

- Pelo ódio aos meus sais, não me fale mais de espelhos, nem de líquidos. Estou é com uma unha encravada e não consigo arrancar.E isso não é uma metáfora,nem ao menos hipérbole.

- É debaixo dos ossos, não é? Dentro deles, eu sei. Apenas nesse sentido somos escatológicos. Quem não entender, que se foda também.

- Entendo sim. E essa dor é que fez a criança trocar o choro pela palavra.
Parece minha árvore genealogica me lambendo toda.

- Cada folha, então, uma língua.
Isso seria assustador para alguns.
Sei que não pra você. E pra mim parece até eu fundando uma nova estação narcísica.

- Eu te digo, tu me dizes, nós dizemos e acabamos num sussurro de "venha mais, te quero a morte fina em vida grossa"!

- Somos rizoma da mesma árvore.
E não me importo com a quantidade de neurose que isso possa carregar nem você.
Enfim, já é noite, estou bonito, tenho dado galhos e trouxe flores.
Vim te matar.

- Que bom! Eu tenho dado frutos, estou bonita e trouxe o machado enquanto fumo seu cigarro.
Vim te fazer sorrir.
..

Remos



- E aquela foto?

- Não é apenas um personagem pra mim, por isso achei que você também veria coisas ali, sobre você. Nossos personagens com identificações nos ajudam a falar sobre nós, um ótimo exercício de identificação. Da colcha de retalhos formada por pedaços deles, resulta um de nós.
Claro: uma colcha serve, mesmo sendo de retalhos, pra cobrir o quê?
Um corpo.

- Lembra do papel de jornal sobre nós? Juntos, abraçados, sujos e sentindo um perfume que seria a indiferença pelo todo? O que me afastou disso foi medo. Mas atrai. Habitat natural é o isolamento junto.

- Coloque uma caixa de som em cada ouvido. Aumente o volume ( para mim ) até que eu desapareça e não haja mais diferença entre eu/você.

..

- E então, ouviu agora? Aquele lance de só estarmos sentados com um texto..
Foi só lucro, mesmo que não envolvesse um centavo..

- Claro que lembro, o que eu e você sabemos fazer melhor é LER COM TUDO QUE TEMOS em nós. "Temos"? Falei isso? "Nosso"? Onde isso levará, ao amor?

- Não lhe parece que somos nós que damos essa condenação?
O cara da pedra me parecia saber do peso e mesmo assim carregar vaidoso de si, num ultimo apego. Aquela cara de dor dele era de dor mesmo? Não parecia ignorar nada nem o nada e mesmo assim continuava.
Por que não se matou? Por que se alimenta de sabotagens, roubos e assassinatos?
Por que desejar o amor, sendo amor?

- É o que assusta os assustados. A cara de dor é de que mesmo ?
Até onde, "honestamente", é apenas dor ? Mas dor de sofrimento melancólico, estagnado ? Não. Somos movimento, alternâncias, nem que seja até não mais fazer sentido a dicotomia.

- Amas assim: porque não deixo a navalha assim pendurada, como uma rodoviária fica pendurada no meio de uma cidade, com uns destinos estranhos.
Amas posto que enfia a navalha até ela virar fibra de teu músculo, ou mais uma rua vazia que não leva, leva a vela, a lugar nenhum, cemitério de festices.

- É bom saber.

- Não saiba.Ou vai usar ( ou deixar de usar) no momento inoportuno.
Agora uma parte sua já sabe, que não é a parte que costumamos dizer que sabe.
A que interessa sabe. A outra, rasa, tábula, faça esquecer. Ou sei lá, Beba!

- Então adeus.

- Não!Por favor!
O "saber" foi fita, charminho mesmo..coisa boba de quem queria dizer que adora mesmo é estar aqui novamente, com você, com esse fio teimoso de saliva.

- Mas então..e essa foto?

- É que não choro mais como se não tivesse vindo.

- Então me passa a bola?

- Claro. Time é time..

..

Pesca e Mosca



Ele costuma fazer lavagem intestinal com perfume.
Nada contra. Reconheço as benesses de um bom incenso enfiado entre os dentes de um necrófilo.
Se é isso que estimula os sonhos com vegans, então..Hu-la-la!
No amigo oculto do ano de mil novecentos sem calendário, dei de presente ao mancebo uma coleção de bengalas modernex do bom velhinho, já sabido que ele curte soletrar o poderoso chefão enquanto abate o porco.
E como foi divertida a zona toda! Ele mirava sistema orgânico de vento enquanto eu enxertava óxido nitroso na reprodução vegetativa.
"Aquela cabeça decepada era de égua, vocês viram, não viram?". Dizia ele dispensando a mostarda.
Me comovia o jeito dele declarar seu amor cirúrgico no intervalo, de quatro. Embaixo da maca de emergência. "Me devolva o frasco! Me devolva o frasco!"
Devolvi todas as vezes e rezávamos juntos. Quase covardes. Quase bonitos. Quase..sem nome algum..

Menino que se fez orfão de flores para mamar em cactos e sentir ainda alguma dormência lhe penicando as bulas engolidas a vácuo, separava em capítulos as anestesias.
Costurei um paninho morno acordado no seu ouvido que era um coador de suturas.
- Espera! Esqueci de avisar que nem sempre escuro é medo.
- Então atira, vai! Por favor!
- Tira o colete eletrostático que sim.
Sumiu naquele dia com as mudas de gérberas no aparelho ortodôntico.
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Custeados por olhos que não sabem ler, sempre poesia.
O oxigênio necessário pra alguns é vendido sob pena de tráfico.
Compramos uma espécie de febre, e não aceitamos a possibilidade de uma gripe. Queríamos uma febre que fosse febre e apenas febre. Uma infecção
sem lugar específico no corpo ( ou na pele ). Uma febre marítima. Uma febre
desértica. Ou seja, uma febre sem a proteção semântica da epiderme e suas tatuagens de mapas e vetores sentimentais.
Quando líamos o singelo,desconfiávamos.
Mas o singelo tem algo que chama ao rasgar.
Já senti isso também.
Antes pensava que era desconfiança sobre o "simplismo"; depois, por notar seu erro, confundir com "simplicidade", admitir uma humildade, viu que a desconfiança era sobre ele mesmo,a vergonha cartesiana de ser em parte explicado, seduzido, poetizado pelo que há de mais quase que totalmente pouco, esse pouco muito de uma escada rolante, ou de vagar no cemitério sem pensar no post-mortem; e sim sem pensar em nada, sem Rodin, Camille Claudell, nada; vagar e tarde e noite e dormir em qualquer canto, respirar.
É, também senti isso.
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- Mas é necessário pensar, querido. Nem que seja no fim de tudo, sobre o fim de tudo, na talvez ilusão de descanso mármoreo, pois o dia-sim-dia-não é uma transgressão à idéia de evolução, que sustenta nesses dois séculos a também
e talvez ilusão mais ancestral: de que vamos, com tempo-espaço, melhorando...
O dia-não é esperança.
O dia-sim, eterno retorno.

- Você agora me pegou, querida. Detesto quando fala demais.

Ahh..maldita meia arrastão! Apenas anote "Anfíbio" no caderno de receitas.
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Siri Catado



"Depende do que não cabe entre as paredes"


Todo cara da ECT acha que mais fodão que ele, só ele mesmo, carimbando o pau com a língua.

Mas só de pensar em apólice, via dupla, cartório e impostos, chora.

Qualquer boa garota simples, que não saiba o que é "tuti-fruti-cult" aprende isso se for uma boa garota-no-blues-forever, continuando a não saber, e pica a mula mole na vizinha!
- Filho meu se quiser dar uma de viadinho tudo bem, mas tem que ser, ao menos, rico!

Tem que aprender. A se aprender.

Depositou algumas cenas na conta do gerente e o caixa não gostou do sub-faturamento.
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Quando o orgão é Estético, Balthus é só mais um idiota.

A ficção pulp é um pastiche de desejos, mesmo os violentos, mas aceitáveis, vistos com a superficialidade que todos adoramos.

Eu compro pão na padaria porque economizo o dinheiro do buzão lá do trampo, e de vez em quando ouço coisas mais surrealistas que o cara dos relógios alisando os próprios bigodes.

Como a velha maltrapilha que me perguntou de assalto, na saída, com a cara mais doida do mundo:

- Você sabia que Joana Dar'c morreu queimada?

- E foi aqui, no forno dessa padaria?

- Sei lá, moça!Eu só queria um pão branquinho! (cara de espanto e medo nela, a doida era eu?).

..

Em outra cena, uma mulher jovem que não chora.
Seus olhos foram parar quase no esôfago em algum verão desses que correm na vida como ela é, sangue anti-ficcional, e mesmo assim ela não chora.
E não é por acaso que ela hoje sorri tranquilamente.
Nunca depositei flores no túmulo.
Alguns gostam de se ver como brutos por acreditarem que assim, a docilidade não os aniquilará completamente.

..

Coisas engraçadas e tristes lá.
A vida.
Ela não é só avante avante avante.
Ela é coisa engraçada e triste
por vezes ao mesmo tempo.

Por isso não busquem exemplos, ou serão mestres.
E Não, nem tudo pode ser corrigido.

"A menos que você seja eu, é claro."[sic]

Dunas de Astrolábio


Tu filmas:
antes que a paranóia fizesse teu sair, correndo.
Uma onda que nasce forte, e não perde força,
apenas se adapta à menor quantidade de água.
Alguém derruba uma cadeira, espirra areia, a câmera cai e lá está a
praia. E nela, um pé passa rápido ( risos ao fundo ),
rápido como uma mensagem subliminar. Como um pensamento que faz graça.

Eu filmo:
Quem não notou como agia Dirty Harry,
amorosamente apertando o gatilho, quase com compaixão,
sem mover um ato de reflexão; quem não notou que esse homem outro, pouco depois,
filmou Bird sem precisar do blues, das cidades bucólicas, dos fantasmas, do jazz e até mesmo de Bird?
Ao lado, talvez antes de qualquer lado, algumas palavras em choro: vendas amarradas no desembrulhar dos olhos.
Buceta em dança das cadeiras? Olha que te faço engolir uma flauta inteira, hein!

..

Acordei com algo impregnado em teus cabelos te trançando.
Nada te é pior do que o não-atrito.
Greve de sexo sem sexo, sem greve, sem Grécia e o que de mim é tátil.
Uma Alface lambendo as cataratas do meu Vovô querido.
Amor entre signo e significado, lembra ? Mais que sal
da terra, esse chato, sal do mar, sal daquela cena.
Signos se afastam de seus significados para um e outro e em
alguns momentos, se aproximam, certeiros: isso gera curvas.

..

Alguém filma sem revelar:
Algumas coisas que detestamos podem ser mais aliadas de outras que adoramos.
Tão democráticos que aceitam com sorriso, o afastamento
rancoroso do mundo.

"É triste? Bonito? Perverso? Patético? Esse é o começo ou o fim?" - dizem as legendas impugnadas.

Esperem, meninos e meninas, não há título.

"Mas é filme, não é?"

Vocês não sabem?

..

Mareou (Quadratura)


Francamente? Não.
O café sempre é servido meio frio já, como se no intervalo entre colocar água na chaleira e acender a boca do fogão, o gás escapasse todo.
E você sabe mais do que ninguém como o chá para a classe média representa um ótimo escalda-pés.
Não que eu não faça grande diferença em praticamente tudo, mas e daí, não é mesmo? O caso é que eu não sei realmente de que porra você está falando quase nunca e mesmo assim sempre acerto as quinas acumuladas.
E antes que você diga que o inverso também acontece, eu digo que isso seria possível se não fosse por um detalhe: O inverso sou eu.
Isso é o fim da picada para alguém que já tem mais do que recordes batidos e tem plena convicção de que o imponderável é nunca ter conseguido dinheiro suficiente para comprar uma máquina de lavar com centrífuga à vista.

Confesso que admiro quem consegue ler praticamente todos os livros até o final e ainda sem bocejar. Mas só os que, nesse intervalo, nem respiram.
Lembro de época em que determinados homens eram escolhidos a dedo por algum dado pirotécnico lançado verticalmente nas matriarcas do cu do mundo enquanto eu apenas não tinha nascido.
Enquanto você escreve e lê amores, eu lavo e espremo a roupa suja na mão e ainda com um certo ar contrariado que nem me convence. Sempre serei neta de lavadeira.
Chacot pra mim é bosta. Berlim é bosta. Pensando bem, você é um bosta. Não que eu fique muito atrás disto também, afinal tenho tanta preguiça desse lance homens-mulheres.

Quando penso nas besteiras enormes que fabricam casais a granel tenho até urticária. Afinal é isso que são homens e mulheres, né? Um monte de frescura intercalada com grandes ares de sabedoria messiânica gay, variando quem dá o rabo pra quem de hora em hora pedindo bis.
Mas ficam adoráveis lembrando de alguns sorrisos sem autógrafo.

Pensando bem, nada disso.
Chacot me lembra chacota, de Berlim lembro de "Asas do desejo" (era em Berlim, não era? Se não foi passa a ser agora). Porra de filme desgraçado que me fez sentir uma rolinha manca e que prometi assisti só uma vez por ano, todo o resto da minha vida.

No dia em que uma mulher nascer perdoada por ter um lindo sorriso, eu chuparei picolé de café, nua, no polo norte.

..

Texto gasoso inspirado no: http://vazamentosdevapores.blogspot.com/

Genealogia da Inveja ou Grazzi-Bel a despeito das flautas



Passe a dama por debaixo da mesa.
Ela tem 64 chances na ascendência e 32 na descendência.
O pó de engodo não trina, se estabelece.
E pela beira, o corpo coagulava?


A noite cobriu o tabuleiro delirante de fendas. Numa passagem de flash.
Começou nesses membros a mais que chegaram e já estavam aderidos. Vez que empolava as dobras, de tanto reunir. De duas em duas é que o movimento esvazia o horizonte. Ficaram 20 em cada país. E as casas dividiram-se entre claras e escuras.

O silêncio, por dentro, era de lava. E diziam que ela não podia com a palavra:

'Isso, menina, escreva! que poeta, heim?'. E ela, centauro de tetas, estranhava o arremesso. As casas pretas tomavam as brancas no deslize. Mas só as brancas podiam começar o jogo.

"Onde livro anunciado, me dissolva a menstruação!"
Então ela abria a porta, a pia ainda pingando papéis, ia se cortando em tirinhas, para enfeitar o natal em família.
A irmã oferecia um dinheiro para o brilho e costuravam agulhas no cristal.

Pelo que lhe restava num segundo de memória, observou por mais de cem anos o observado se observando: conceitos pediam sempre companhia;
Era engraçado criar tantos já desacreditando de todos, tremer um pouco ao saber e ouvir Lou Reed mirando o disco.
‘Sabe, a captura é obrigatória’.

Depois onomatopéia de gorila-imitação avançando sobre si e mais risos trouxas, às vezes uma lágrima por não se lembrar mais como era antes de soletrar. De cheiro de bosta de camelo era a insígnia.

Também não acreditava em sorte ou azar, bastava fechar os olhos,"Valei-me vó!" e PuFF!Porquês não lhe interessavam mais que um chiclete grudado no cabelo. "Podem rapar! Vendo perucas, carecas! Mas os pentelhos são meus." Segunda casa de coroação.

Uma vez a febre queimou o primeiro armário. Já estava em paz com a sodomia. mas a febre vinha raspando o sacro na fagulha, e ela correu.
'Quem é?'
'Sou eu, com as surpresas'
'Tem certeza que vai viver aqui?'

E foi colocando as pedras no móvel e na geladeira, aparas de músculos que saltavam pra dentro da saliva quente.
Gargalhava quando, nela, a gorila ameaçava, a sala virando montanha. Subiam e desciam pelas gavetas compondo mosaico e paredes de ruas.
'Tenho certeza sim'.

Então tá. Entra sem diagonal!

Terceiro armário no andar de quarto sem compasso e o quinto fazendo porta no sexto simulacro. Sorri sobrando no ritornello.

O segundo armário era tão simples que se construíam exércitos de chaves. Chovia no eixo das dobradiças. 'Sem casa, pode? Vagabunda’!

Esqueci a porta da cozinha aberta. Daquela vez a gorila derrubou o tabuleiro e engoliu as pedras. O trapezista foi um homúnculo que babava prosopopéias. Lembro de um incêndio que não acudiu retina. Um vodu gangorrava o alheamento.

E agora não sei se era dia ou noite. Não é agora que se diz sonhei?

(Ele atravessou o poço, provou que era feliz e gozou no garfo de uma suspeita).

Afinava a carcaça de seda no magarefe e encurtava as ancas pra mijar na boca dele.

"Troco um lote de metáforas por uma vassoura que não voe" e foi a pé mesmo, morder umbigos em necrotérios.

Azul em rosa



Embaraçamentos em muitos dedos longos de nós.

Desde meninas eram assim e não sabiam exatamente porquê. Não que isso as incomodasse de fato; a indiferença forçosa as alimentava de tal maneira que à distância guardavam uma amorosidade de baú em dia de limpeza.

Sentiam-se protegidas assim, envoltas naquele arremedo de nostalgia, encontrando-se entre dobras antigas e estranhando algum botão gasto demais que pulasse inesperadamente ao toque das mãos. Uma vez por ano acrescentavam ou retiravam um item dos relicários de imbúia, um com arabescos de tinta rosa na borda; o outro em azul. Cada uma em sua casa, com data previamente combinada e resguardas na distância geneticamente elaborada, enlaçavam a perenidade assim. E esta era uma regra inalterável.

No dia do encontro telefonavam uma à outra, marcavam a visita simultaneamente aos tais baús, cada uma em sua casa, mesmo morando as duas no mesmo quarteirão.

- Ontem sonhei em rosa.
Um leve arremedo de suspiro do outro lado da linha foi contido a tempo pela resposta.

- Então será hoje.

Nada mais diziam, apenas desligavam o telefone e encontravam-se nas brumas daquelas raízes fossilizadas. Ritualisticamente, o momento as enfeitava desse jeito há mais de quinze anos.

Enquanto a primeira preparava o banho quente, a segunda tomava chá de hortelã, já sabendo que seria assim e discordando as duas da ordem desses acontecimentos, pois quanto a tomar o chá antes do banho sempre houvera divergência explícita entre elas.

O relógio contou muitas horas, como botas pisando um gigante, e adiantou-se ás burocratas senis.
- Ontem sonhei em azul.
Dessa vez não houve ar que paralisasse o gemido.

- Mas..como? Há alguns dias nos encontramos e ainda neste ano que corre!
Um ar de contrariedade num segundo mudo.

- O que você sugere? Que não sonhemos mais ou mudemos todo o processo?

- Não tente trazer-me riso à cara, sabe que isso me irrita profundamente!

- Não tentarei.

- Troquemos os baús então, hoje mesmo mandarei o meu à sua casa. Isso arrematará seu sonho e talvez o regularize novamente.

E assim fizeram. O da mais nova era mais velho e o da mais velha, pesado. Por isso combinaram de abrirem as tampas somente quando a que mais chorasse sem aviso, sorrisse. O sinal seria um toque ao telefone, desligando a seguir.

Toque dado, baús trocados, tampas abertas..puseram-se a vasculhar lá dentro, no início com certo desprezo ao fetiche, depois com iconoclasta voracidade.

Em rosa: alguns recortes de revistas com frases ao meio coladas em pedaços de cortiça; pedaços colhidos de páginas policiais; um frasco de perfume vazio; um retrato de um casal desconhecido; cuidadosamente envolvida num saco transparente, uma toalha nunca usada, em bordado inglês; uma boneca quase careca; um broche.
No fundo falso, uma cópia de pintura antiga e barata sem assinatura.

Em azul: o mesmo retrato de um casal desconhecido, um lençol amarelado com uma enorme mancha de vinho que ainda teimava em impregnar todo o interior; cartas de baralho faltando coringas; uma tesoura enferrujada; almofada grande sem enchimento e um conjunto de colar e brincos de pérolas tortas.
Uma ilustração em tamanho reduzido de um pintor famoso, sob o fundo falso.

Uma delas fechou a tampa, não sem antes rasgar um dedo com a tesoura enferrujada e acrescentar gotas de sangue pingados ao baú da outra, que ao recebê-lo no dia seguinte, tremeu.

Outrora nunca lhe passara pela cabeça, que o chá que a irmã sempre tomava antes do banho, fosse frio.

Com as faces alagadas de vermelho, livrou-se da pintura sob o fundo falso, despediu-se dos sonhos do azul em rosa e mudou de endereço.

..

Carta





Não aqui: antes.

Como alguma madrugada em distância de cuspe, voltei lá. Esgoto em calha que renderia sobrevivência.

Havia mais ainda que desconsiderei como avanço e mesmo assim segui, amanhã o inútil já esgotado.

A escada tentava conter uma febre fria escorrendo do manual e gotejava esboço de luneta suja.

Capinei um poema de carne horas atrás, soquei num buraco de concreto e foi tão grande a fissura que sumiu!

Agora não antes: aqui.

..