Encontro...

Eu nunca ousei escrever aquela palavra, em lugar nenhum.

E desde o primeiro dia em que ela surgiu para mim, dentro do meu eco, nunca mais fui a mesma. Foi irreversível.

Letras luminosamente gritantes e embaralhadas dentro de um silêncio maior que eu me cegando orgasticamente. Assim ela começou a devorar-me a existência.

Em meio a livros, nas portas de banheiros públicos, em bíblias e alcorões, em panfletos de propaganda, em mensagens telepáticas, ela estava lá, rasgando tudo. E ninguém a via, somente eu.

Era como uma maldição. Havia dias em que, ao acordar, não pisava no chão com receio de tocá-la com meus pés e poluí-la.

Em outros ficava horas andando pela casa de olhos fechados para que ela não se ofendesse com o meu olhar.

Conversava comigo, a muda, e me exigia integralmente a devoção. Minha fidelidade canina devolvia com ferocidade.

Numa noite sonhei tão intensamente com ela que copulei mil vezes em apenas um segundo. E emprenhei de cem gêmeos.

Expeli todos de mim com muito sangue e com tanta força que todas as paredes ficaram vermelhas.

Coloquei folhas de papel sobre todo o sangue, onde abaixo havia somente paredes, e as recobri de outras tantas palavras.

Mas ainda não ouso escrever o nome dela em nenhum lugar.

Em nenhum lugar do mundo caberia tanto.

17 comentários:

Henrystuffs disse...

São coisas que não podemos descrever com exatidão que nos leva a escrever coisas assim. Belo texto. Parabéns.

ALMS disse...

Um céu sobre seus pés para dentro de si.
Eu escrevo então por você o nome... "Grazzi"


Lindo! Parece umm espelho cristalino.


Tua amiga, Dja Total

Anônimo disse...

seu coração!
além de abastecer seu corpo com
sangue,abastece com poemas,cabe
a nós,previlegiados de te conhecer,
agradecer.

beijos grazzi,se você não existisse,
alguém teria que inventar você.

Anônimo disse...

Eu ainda tenho que aprender a dizer certas coisas a você...

Por enquanto, deixo aqui registrada minha total admiração, por você, e pelos belos textos que lhe descrevem.

Beijão

Bernardo Bevenuto disse...

Uma palavra não foi dita.
Mas outras se uniram, e combinadas em perfeitas coreografias, discorreram diante de nós, atônitos circunstantes agraciados por mais um singelo - e voraz! - espetáculo de eloqüência, sentimento e beleza.
Bendita a palavra que não se diz, e mesmo assim encanta!!!

Paulo Castro disse...

E sabe: a palavra que todo mundo sabe, mas quem ousa ?
Tem um canto todo especial pra ela no inferno, bem dentro de uma caixa lá que chamam de paraíso, e dentro dela, uma caixa que chamam de inferno e dentro dela um espelho de dois lados, preso no abismo por um cordão.
Esse cordão, um dia, esteve preso a uma touca de banho.
A touca, hoje em dia, está em um vácuo medroso ( si, si, horror à contra-natura ) e nele lê-se :

"Grand Hotel Inabitado".

°

Beijos.

°

Anônimo disse...

Sim, a palavra impronunciável nos cria a tentação tão corriqueira de querer sua revelação no final. Resolvendo nossos problemas, estabelecendo enfim a verdade sobre o mais íntimo e secreto sentido para as coisas. O leitor adere a essa tentação, mas vacila e logo duvida que o desfecho seja a tal revelação. Tenta-se adivinhar, como se fosse possível saber. Mas a autora é sábia, não revela o que talvez desde o início não haja mesmo: uma só palavra que nos garanta um sentido pleno e apascente nossas inquietações mais profundas.

Achilles

Deyvson disse...

Falaria de um amor de duas lésbicas, sendo o sujeito lírico completamente apaixonado pela outra. Me parece um amor recheado de idealizações platônicas, ao mesmo tempo repleto de luxúria, e algo me chama atenção ao ela falar q engravidou em sonho. Ou seja, a maternidade, mesmo impossível nesse caso, era desejada.

Anônimo disse...

desorientado

Anônimo disse...

Intenso!
Gosto muito de intensidade. Contos, palavras, sentimentos...

Andre Silva disse...

Esta mulher é Júlio Cortazár nagô.
Só que mais visceral.
Surrealista cristalina.
Um ícone do meu tempo.

Anônimo disse...

Pra causar tanta comoção e tanta emoção essa palavra só pode ser uma: meu nome. hahahahahaha

Grazzinha, é, como sempre, um prazer ler o que vc escreve.

Anônimo disse...

Grazzi...
Seu texto me fez viajar tão longe.
Me senti gravido e parindo.
Ah!
Como gostaria de ter seios pra alimentar minhas crias.

Ayahuasca

Tony disse...

Eh o que hah!

Anônimo disse...

ainda é preciso criar muitas palavras pra dar conta de tanto sentimento diferente.

jorgeana braga disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
jorgeana braga disse...

esse me atingiu em cheio, definitivamente somos almas afins grazzie. aff.