Pesca e Mosca



Ele costuma fazer lavagem intestinal com perfume.
Nada contra. Reconheço as benesses de um bom incenso enfiado entre os dentes de um necrófilo.
Se é isso que estimula os sonhos com vegans, então..Hu-la-la!
No amigo oculto do ano de mil novecentos sem calendário, dei de presente ao mancebo uma coleção de bengalas modernex do bom velhinho, já sabido que ele curte soletrar o poderoso chefão enquanto abate o porco.
E como foi divertida a zona toda! Ele mirava sistema orgânico de vento enquanto eu enxertava óxido nitroso na reprodução vegetativa.
"Aquela cabeça decepada era de égua, vocês viram, não viram?". Dizia ele dispensando a mostarda.
Me comovia o jeito dele declarar seu amor cirúrgico no intervalo, de quatro. Embaixo da maca de emergência. "Me devolva o frasco! Me devolva o frasco!"
Devolvi todas as vezes e rezávamos juntos. Quase covardes. Quase bonitos. Quase..sem nome algum..

Menino que se fez orfão de flores para mamar em cactos e sentir ainda alguma dormência lhe penicando as bulas engolidas a vácuo, separava em capítulos as anestesias.
Costurei um paninho morno acordado no seu ouvido que era um coador de suturas.
- Espera! Esqueci de avisar que nem sempre escuro é medo.
- Então atira, vai! Por favor!
- Tira o colete eletrostático que sim.
Sumiu naquele dia com as mudas de gérberas no aparelho ortodôntico.
..
Custeados por olhos que não sabem ler, sempre poesia.
O oxigênio necessário pra alguns é vendido sob pena de tráfico.
Compramos uma espécie de febre, e não aceitamos a possibilidade de uma gripe. Queríamos uma febre que fosse febre e apenas febre. Uma infecção
sem lugar específico no corpo ( ou na pele ). Uma febre marítima. Uma febre
desértica. Ou seja, uma febre sem a proteção semântica da epiderme e suas tatuagens de mapas e vetores sentimentais.
Quando líamos o singelo,desconfiávamos.
Mas o singelo tem algo que chama ao rasgar.
Já senti isso também.
Antes pensava que era desconfiança sobre o "simplismo"; depois, por notar seu erro, confundir com "simplicidade", admitir uma humildade, viu que a desconfiança era sobre ele mesmo,a vergonha cartesiana de ser em parte explicado, seduzido, poetizado pelo que há de mais quase que totalmente pouco, esse pouco muito de uma escada rolante, ou de vagar no cemitério sem pensar no post-mortem; e sim sem pensar em nada, sem Rodin, Camille Claudell, nada; vagar e tarde e noite e dormir em qualquer canto, respirar.
É, também senti isso.
..
- Mas é necessário pensar, querido. Nem que seja no fim de tudo, sobre o fim de tudo, na talvez ilusão de descanso mármoreo, pois o dia-sim-dia-não é uma transgressão à idéia de evolução, que sustenta nesses dois séculos a também
e talvez ilusão mais ancestral: de que vamos, com tempo-espaço, melhorando...
O dia-não é esperança.
O dia-sim, eterno retorno.

- Você agora me pegou, querida. Detesto quando fala demais.

Ahh..maldita meia arrastão! Apenas anote "Anfíbio" no caderno de receitas.
..

8 comentários:

Anônimo disse...

o problema é que você é um tipo de vidente literária, sei lá. de verdade, esse texto é ótimo. e tô gostando dessa conversa entre seus textos e os do paulo.
bel

Anônimo disse...

Grazinha
Simplesmente amo os desfechos que vc da nos seus textos.
Bjo

Dani

Samantha Abreu disse...

porque, no fim das contas, tudo em nós vem da (mal-bem)dita dissecatione.
oh... dois textos (o seu e o do Paulito) que poderiam ser mórbidos. Mas a gente sabe não é isso. É muito mais, é verve, talvez.
Gostos de ler, de imaginar e de ter idéias amoricídas.
Um beijO, Grazzi.

Anônimo disse...

Quero esse frasco e tiro o colete.
Vai?

L

Paulo Castro disse...

Pronto.
Finalmente estamos em um ponto em que não há mais volta. O coloquial foi abandonado como colônia de que a metrópole já se cansou.
Os colonos-semânticos estão livres e não têm a mínima nossa de uma necessidade governamental, nem punhetinha de Rousseau, aquela biba, nos bons selvagens de quem chupava a pica, tal qual Levi-Strauss com nossos trópicos de nervos.
Tristes ? HAHAHAHAAHAHAHAH !
Estou sem net, mas assim que liberar, pouso na colônia com os armamentos e festividades.
Mas foda-se.
O que quero dizer: Leitores, agora NÃO TEM MAIS VOLTA. Estão fodidos.
Beijos.
°

Anônimo disse...

OIê, Paulo, !!tb to fudida, mas vou entrando por debaixo das palavras, bem devagarinho, e já que os sonhos não aparecem de maneira natural, vou po-los de quatro à minha maneira mesmo, aí eu pergunto à ela: vou pescar , e ela me diz que cabeça de égua não se pesca!! mas bem que ela adora um jeguão!! eita que é bom!!faz cocegas nos meus ossos , e brinca de me maquiar todos os dias pra que eu não morra desbotado... tem a coragem de pintar meus mortos com lápis de cera e lhes desenha nas costas um arco- íris cheio de vida ainda naquele roxo q já era, é MOLE??mais eu deixo, qdo resolvemos ficar juntos bem que eu sabia disso ,, ah! como sabia! joga- me nitrato de prata no lugar errado e eu; snif, snif ; não funciono nem a pau!! com o pau!! vou indo por debaixo das cobertas como uma moita me arrastando por debaixo,e qdo chego perto dela, bem pertinho ela diz: ai que boca de jumento!! não gosto de mostarda !! e ele na emergência loka de me ter naquele instante, diz que esqueceu o ktchup e eu não transo com cabeças pálidas...mas aí ele tinha o frasco!! escondido na manga ,e usou!! espertinho!! e fez com que eu desenhasse todas as paisagens pela vida, fez com que igreja e palácio se construissem no meu peito e eu naquela noite nunca tinha visto um morto tao vivo daquele jeito !! nahm nham nham ...como era bom! o pai nosso começava com o amém de ponta cabeça e ave-maria? sei lá já tava de quatro dando pro seu Jorge canonizado... mas fomos indo, tentei entender o q ele me dizia, mas tinha a lingua presa ,coitado!! ele tinha no corpo a mudança de um país, e eu não entendia nada, até que fomos ficando com febre ,com febre ,era a febre terçã do amor, um amor que já vinha cadavérico pelos caminhos do dia a dia sobrevivendo apoiado em bengalas de momentos bons...deixei que ele acreditasse q não tava tão gelado assim. chamei ele de meu irmão, meu homem , meu amigo , nada mais era necessário do que acreditar que aquele era um tempo único , e eu prendia as horas na vidraça pesada da memória, e ele não parava de falar , de que qdo era vivo ainda bem vivo, um pouco mais que agora, gostava de bolinhos de chuva ,qdo chovia... achei engraçado aquilo, tanta coisa pra gostar !1 eu tb lhe disse que parasse um pouco de falar tanto e me deixasse resolver
os detalhes, daquela noite longa em que nos encontramos no QUASE MORRER de todo... onde na minha meia arrastão me prendi definitivamente em fios soltos enroscando -me nele e varri as horas num canto para que pudéssemos nos ter ainda por um segundo...
maria de fátima

já tenho lesadosemgeral disse...

Este é prá tatear.
Porque "nem sempre escuro é medo".
Disse tudo por aqui.
Boa sim , você!

Aprendendo a falar de Amor disse...

Grazzi escrevi um Romance na net Diante da Vida Espiritual a Ilusão das Drogas

http://blig.ig.com.br/mzegunis/