Confissões de Adriano. Adriano?
Alguém aqui já foi ameaçado(a) de morte por um(a) ex?
Eu já!
E confesso a vocês: nem quando ela dizia me amar convenceu tanto quanto agora. Talvez em algumas pessoas o ódio desperte mais vontade de agir do que o próprio amor. Tenho certeza que Bárbara é uma dessas!
Era noite de sexta-feira e chovia, e como chovia! A campainha tocou com aquele jeito íntimo e ameaçador, típico dela. Saindo do banho e ainda enrolado na toalha fui atender a porta. Sabia, antes mesmo de olhar no olho-mágico, de onde vinha aquela antiga sensação.
- Oi, entre.
Sem dizer uma palavra sequer entrou na sala, antes mesmo que eu terminasse de fechar a porta.
- Sabe por que estou aqui, Adriano?
- Seria saudades ou esqueceu o troco?
- Vejo que ainda continua um grande idiota.
Desconfiado de algo mais, dei um sorriso de canto e vi que ela mexia em sua bolsa. Parecia uma arma. Não, era de fato uma arma. Pequena, como ela.
- Adriano, você ainda vai morrer com um tiro no meio da testa. Duvida?
Duvidar de alguém que até certo tempo atrás dizia me amar e que agora me apontava um revolver? Não haveria como!
- Ficou maluca? Abaixe isto!
- Fiquei maluca sim, seu otário! De agora por diante terá que amar esta arma, ou então... bom, já sabe.
- Que história é essa de amar uma arma?
- Saberá agora! Vamos, tire a toalha que te quero todo nu no meio da sala.
Obedeci com as pernas trêmulas, hipnotizado. Minha única certeza é que não poderia contrariá-la. A toalha caiu e caminhei até o meio da sala.
- Agora seu canalha, pagará por tudo que me fez sofrer. Vamos, abra a boca!
- O que é isso, Bárbara?
- Vamos, abra a boca ou morre com um tiro na testa!!
Mal terminou de dizer essas palavras eu soube que aquilo tudo estava longe de ser uma brincadeira de mau gosto. Em seus olhos, via-se o domínio de uma maldição prestes a acabar com a minha vida, ou fazer dela apenas mais um jogo de azar.
- Isso, caro Adriano... Abra direitinho e bem devagarzinho essa sua boca imunda. Não se preocupe, não atirarei agora, não antes de fazê-lo se borrar de medo.
- Não atire, por favor. Faço o que você quiser. Mas não atire!
- Calma. Obedeça-me apenas. Vai, chupe com gosto o cano dessa arma, seu cretino!
Por impulso, já de boca aberta, fechei os olhos e ela, sem hesitar, enfiou o cano da arma vagarosamente. O gosto de metal e ferrugem misturou-se junto à saliva, fazendo-me sentir um enjôo repleto de medo e pavor. Ela, fazendo movimentos de vai e vem ria da minha cara escandalosamente. Percebi que estava com o dedo no gatilho, e que qualquer vacilo meu naquele instante poderia ser fatal.
- Ai Adriano... Se eu soubesse que você chupava um cano tão gostoso assim, juro que gostaria ter nascido homem, só para ser chupado por você. Vai...Chupe gostoso, seu filho-da-puta!
Na verdade, nesse instante eu não pensava em nada. Muito menos em reagir, já que não me restava chance alguma de fugir da sua ira. E como ria a desgraçada da minha cara, enquanto eu já estava prestes a me urinar todo.
- Lembra de quando você me tratava feito uma escrava sexual, onde apenas o seu prazer era colocado em mesa? Agora é a minha vez! E o meu prazer tornou-se nisso que você está vendo, seu babaca. Chupe mais!
Ela não parava. Empurrava todo o cano da arma em minha boca, já cheia de saliva causada pela ânsia.
- Não vou estourar sua cara com um tiro na boca hoje, Adriano. Já disse: hoje não! Mas você está certo em seu terror, afinal quantas vidas o medo já salvou da morte? Gosto de ver os seus olhos estampando o medo de perder uma vida tão medíocre, como a de um suicida qualquer. Isso paga tudo meu caro. E não dispensar a sua agonia me dá muito mais prazer do que qualquer transa que tivemos.
Já não agüentava mais a pressão. Sem conseguir segurar, comecei a urinar. Ela riu mais ainda. Suas gargalhadas só aumentavam enquanto eu ali, apavorado, nada podia fazer.
- Sabe de uma coisa Adriano? Eu poderia enfiar esta arma em seu cu e lhe ordenar o disparo. Não seria engraçado você, na sala de autópsia, causando espanto e riso nos legistas? Afinal, quantas pessoas se suicidam com um tiro no cu? Você seria o primeiro, Adriano! Mas para esta idéia valer a pena, eu teria que estar lá.
Tirando a arma repentinamente da minha boca, enrolou em uma espécie de flanela, para então colocar em sua bolsa novamente. A sessão tortura estava encerrada, mas para sempre a sensação causada por aquilo tudo iria me acompanhar. Antes de sair, deu um beijo perverso em minha boca babada e sorriu.
- Adriano, no fundo você é mais feliz do que eu. Você conhece o seu fim, eu não.
..
Actos
Cena 3
Nua subindo as escadas.
- Frase mais engraçada do mundo?
- Se eu dissesse, ninguém acreditaria.
- Fala sério!
- Falei não.
- Entendi..
- Então..não entendeu nada, Viena!
Ironia de criança não ser criança.
..
Cena 2
Na rampa, descendo.
- Matilde não compareceu.
- Quais as chances então?
- Nulas. Se não fossem por elas.
- Você é engraçada.
- Se não fosse por mim, seria verdade então.
- Quando ela virá?
- A verdade?
- Não, Matilde!
-Oras..responde você essa.
Cena 1
Aplausos.
- Peça!
- Não.
Fim..
Assinar:
Postagens (Atom)