Remos
- E aquela foto?
- Não é apenas um personagem pra mim, por isso achei que você também veria coisas ali, sobre você. Nossos personagens com identificações nos ajudam a falar sobre nós, um ótimo exercício de identificação. Da colcha de retalhos formada por pedaços deles, resulta um de nós.
Claro: uma colcha serve, mesmo sendo de retalhos, pra cobrir o quê?
Um corpo.
- Lembra do papel de jornal sobre nós? Juntos, abraçados, sujos e sentindo um perfume que seria a indiferença pelo todo? O que me afastou disso foi medo. Mas atrai. Habitat natural é o isolamento junto.
- Coloque uma caixa de som em cada ouvido. Aumente o volume ( para mim ) até que eu desapareça e não haja mais diferença entre eu/você.
..
- E então, ouviu agora? Aquele lance de só estarmos sentados com um texto..
Foi só lucro, mesmo que não envolvesse um centavo..
- Claro que lembro, o que eu e você sabemos fazer melhor é LER COM TUDO QUE TEMOS em nós. "Temos"? Falei isso? "Nosso"? Onde isso levará, ao amor?
- Não lhe parece que somos nós que damos essa condenação?
O cara da pedra me parecia saber do peso e mesmo assim carregar vaidoso de si, num ultimo apego. Aquela cara de dor dele era de dor mesmo? Não parecia ignorar nada nem o nada e mesmo assim continuava.
Por que não se matou? Por que se alimenta de sabotagens, roubos e assassinatos?
Por que desejar o amor, sendo amor?
- É o que assusta os assustados. A cara de dor é de que mesmo ?
Até onde, "honestamente", é apenas dor ? Mas dor de sofrimento melancólico, estagnado ? Não. Somos movimento, alternâncias, nem que seja até não mais fazer sentido a dicotomia.
- Amas assim: porque não deixo a navalha assim pendurada, como uma rodoviária fica pendurada no meio de uma cidade, com uns destinos estranhos.
Amas posto que enfia a navalha até ela virar fibra de teu músculo, ou mais uma rua vazia que não leva, leva a vela, a lugar nenhum, cemitério de festices.
- É bom saber.
- Não saiba.Ou vai usar ( ou deixar de usar) no momento inoportuno.
Agora uma parte sua já sabe, que não é a parte que costumamos dizer que sabe.
A que interessa sabe. A outra, rasa, tábula, faça esquecer. Ou sei lá, Beba!
- Então adeus.
- Não!Por favor!
O "saber" foi fita, charminho mesmo..coisa boba de quem queria dizer que adora mesmo é estar aqui novamente, com você, com esse fio teimoso de saliva.
- Mas então..e essa foto?
- É que não choro mais como se não tivesse vindo.
- Então me passa a bola?
- Claro. Time é time..
..
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