TU!

Começamos receosos e desconfiados um com o outro por já prevermos (hoje sabemos disso) nosso alto grau de irresistibilidade marinha.

Mas mesmo assim, acabamos por esbarrar nossos ombros sinuosos na curva mais alta e assim nos cravamos um pacto calculado de completa inutilidade e requinte.

Meus longos silêncios feudais eram reflexos da nossa relação incestuosa, pois erámos excêntricos irmãos. Criaturas híbridas mas que não suportavam pensar em se desfazer dos gêneros masculino-feminino.

E embora fóssemos renascentistas nas horas que antecediam a necessidade, nunca houve guerras a serem ganhas.

Nos comprazia a conversa infinita, a arte suprema, que deve antes de trazer utilidade, destilar prazer, as palavras que juntas não fiquem justas. Um idílio de nobreza, anuência de sentido unívoco.

Excluímos radicalmente a tentativa de debilitar essa relação de reciprocidade em estado bruto (diria líquido pela permissividade). Uma encenada e deliciosa aristocracia arrogante, com soberba que dava-se ao luxo de divertir-se apenas aos seus. Eu e tu.

Sade nos observando constataria que a nobreza que resiste é mesmo antes de tudo, uma perversão.

Pois éramos perversos em nossa alegria, nos detalhes e na graça.

Como eu, ele também sorria sardonicamente de democracias e só as aplicava em outros, não em si mesmo.

Entre jogos com regras próprias e não canônicas e o paganismo de artesanais presentes castos pelo desejo imperioso do fetiche, erguemos nosso império de sedução. Modernistas em ligações perigosas. Trambiqueiros de si mesmos, gozados em oportunas decadências.

Como não éramos especialistas em arte dramática seguimos sem nos preocuparmos nem um pouquinho com coerência personal, segmentos ou categorias.

Aceitamos sim o glamour mas resolvemos que dançaríamos graciosamente antes que se tocasse a marcha fúnebre. Com a fome incontida dos que se abstém do jantar dos mórbidos, pois a tragédia já é sabida demais para acalentar um charme emotivo.

Por isso eu, que tenho uma porção provinciana insuspeitável, deixo-lhe hoje uma camélia.

9 comentários:

Deyvson disse...

Fala, me parece, de um casal de irmãos q decidem ceder ao amor incestuoso. Tem algumas palavras q ela encaixa em certas ocasiões q eu tiver q julgar o sentido q ela quis colocar (“irresistibilidade marinha”, por exemplo). Mas me parece q eles não só se amavam, como tinham orgulho disso vivendo seu amor sem pudor e de forma egoísta.

“Excluímos radicalmente a tentativa de debilitar essa relação de reciprocidade em estado bruto (diria líquido pela permissividade). Uma encenada e deliciosa aristocracia arrogante, com soberba que dava-se ao luxo de divertir-se apenas aos seus. Eu e tu.”

Paulo Castro disse...

Acho que o run dmc está certo em seu rap.
Mas é como se eu dobrasse um osso do meu joelho e logo depois tivesse que contar meu tempo numa minha corrida de meu campo sprint meu.
Uma coisa pronominal mesmo. Sujeito oculto no exame de sangue, dna das insônias, a cada ano, menos tempo, factual sintoma.
E dmc, acho que o mar é essa langura...ou como disse João Gilberto Noll sobre uma lua que se colocou subitamente para ele: "Esse espírito naval". E não me venham com churumelas de Ferdinando Pessoa A Nível de Gente, pois navegar pra ser tesão é impreciso, de almas tão pequenas quanto caixinhas e camafeus.
°
Ah, Mônica: se vc passar por aqui: Não te odeio, viu ? Só não te tenho amor. Não sofra demais por isso. Meu amor, coisa rara como chifre de unicórnio boxeador.
°

Anônimo disse...

Incondicional...

Eleanor Rigby disse...

Bravo, bravíssimo!
Eis a esquina pela qual vou adorar passar de quando em sempre. ;)
Amo-te, bela.

Anônimo disse...

me fez dar umgemido.

Anônimo disse...

Pq as pessoas necessitam tanto de explicações, de interpretações?

Pq não seguir o que defendia Machado de Assis: "depois de escrito, aquilo é do leitor e não mais teu"?

Junto a isso, some-se que as pessoas têm uma dificuldade de ler entrelinhas, entender algo que seja subjetivo...

Enfim, os meus comentários são p/ alguns postados aqui.

Eu simplesmente tenho a dizer que adorei, que vc tava falando de mim e que eu darei as interpretações que quiser pq agora o que vc escreveu é meu!

Sobre o que escreveu?

O que eu posso dizer a não ser que sou seu fã há tempos? Que não consigo achar nada ruim que vc escreva?

Mais um caso...

Grazzinha, sempre Grazzinha...

mendigo disse...

issu mióra a cada dia!!
parabenzi lindonha.

Anônimo disse...

Totalmente diferente do conto da vaca.

Anônimo disse...

confesso que copiei suas letrinhas mágicas pra mostrar ao meu "tu".
conseguiu explicar o inexplicável pra nós, eu mais ele. =)